Miserável homem que sou

Na esteira da postagem do Leo, Cristianismo em linha reta, e estando eu também, “arre”, “farto de semideuses”, vale lembrar que a supremacia dos eleitos não é deles, mas dAquele que elege… A Ele, pois, a glória.

Publicado também no RVJ (e ligeiramente editado aqui no 5C).

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Eu não tenho muita simpatia pelas pessoas. A maioria delas é obtusa por demais. A maioria delas é grosseira demais. E se estão em qualquer ajuntamento, isso fica ainda pior. Há uma certa aversão venal em mim quando as vejo. E a aversão é recíproca. Eu não provoco simpatia nas pessoas. Isso parece sugerir um total afastamento meu para com os da minha própria espécie. Prefiro livros a gente! Mas será mesmo assim?

Presenciei um longo debate que procurava estabelecer se um cristão é, em algum sentido, diferente de um incrédulo, superior a ele. Considero mesmo inacreditável que uma tal questão seja posta, ainda mais em círculos reformados. Não há diferença alguma entre o eleito e o réprobo. Ambos são filhos de Adão e padecem de sua herança: uma natureza completamente pervertida. É claro que o cristão foi transformado. Mas sua transformação não é sua. Não é em sua natureza, nem em qualquer mérito seu, que se pode encontrar uma diferença. Mas no Cristo e em Sua obra no que crê.

Que fique claro: se largado à minha natureza, se solto a mim mesmo, não encontrarei nada melhor do que encontro nas pessoas por quem não nutro simpatia. A verdade do Evangelho não se percebe porque os eleitos não pecam, mas porque pecam. Não vivemos na prática do pecado e odiamos quando o cometemos. Mas jogue a primeira pedra quem está livre dele por completo. No Corpo de Cristo há quem lute mais e quem tenha menos a combater em si mesmo, conforme a graça de Deus lhe permitir. Mas não se engane aquele que pensa estar de pé…

Então que tipo de afastamento é este que tenho das pessoas? No máximo, é um horror pelo que vejo como se estivesse diante de um espelho. É verdade, eu não gosto delas. Mas quem disse que amar é o mesmo que gostar? Há entre mim e as pessoas que não gosto uma identidade tal que só assim é possível ter compaixão. Só assim é possível olhar para elas e perceber que precisam da salvação que me encontrou. Amá-las é querer para elas o que Deus me deu, dado por misericórdia e graça.

Há muito conheço o mito do bom selvagem. Tenho visto também o discurso do poderoso homem livre. E desde que nasci tenho me incomodado com o evangelho-moral. É um espanto, porém, que totalmente depravados se considerem diferentes por terem sido salvos de si mesmos.

Mas a quem reconhece sua miséria é possível misericórdia!

SOLI DEO GLORIA!

5 comentários:

Marcos Sampaio disse...

Caro Roberto,

Excelente o seu texto para a gente pensar sobre o assunto! Que Deus continue abençoando a sua vida.

Façam uma visita ao VC:

http://voltemosaocaminho.wordpress.com

Um forte abraço,
Marcos Sampaio

Clóvis Gonçalves disse...

Roberto,

Uma só palavra: magnífico. Eu também não gosto do que de mim vejo nas pessoas.

Em Cristo,

Clóvis

Leonardo Bruno Galdino disse...

Roberto,

Dentro da perspectiva do meu texto e do seu, segue um trecho de mais um poema do Pessoa, "Tabacaria":

"[...]Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
[...]

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
[...]" (negrito meu).

Novamente, sem mais comentários.

Abraços!

Nathália de Tarso disse...

Você não vale nada (assim como eu), mas eu gosto de você.

Roberto Vargas Jr. disse...

Marcos, obrigado. Espero que a reflexão nos ponha nos trilhos.
Clóvis, grato, confrade. Somos espelhos de nossa miséria uns aos outros. Que pecados tenham nomes diferentes em cada um, são todos pecados.
Leo, tem andado com o senso poético exacerbado ultimamente, não?
Nathália, não cantarei com você (rs). Mas me alegra que no meio das pessoas haja exceções para o não gostar recíproco. Quem sabe seja, de fato, e para além da brincadeira (que para que me considera mal humorado digo que é muito bem vinda), o nosso caso.
No Senhor,
Roberto

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