Goofies

Goofies (patetas, tontos) ou goofy footers são aqueles surfistas que têm o pé trocado em sua base na prancha.

São mesmo tontos que não sabem que o pé esquerdo é o que vai à frente, não o direito. Pois o certo é ir de frente para o lado direito da onda. E, ao ir para o lado esquerdo, o surfista que cuide de suas costas.

Mas o goofy dá as costas às direitas e segue de peito aberto para as esquerdas.

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Funciona assim…

Há um que é inteligente o suficiente. Mas é preguiçoso. De alguma forma, ele acaba por perceber que sua preguiça é maior que sua inteligência. Ele não se satisfaz com isso, é claro. Ele quer ser inteligente. Então ele olha ao redor e vê que num mundo de iguais ele é maior, se não a todos à maioria. Não porque seja, mas porque a mediocridade é a regra da qual ele só é exceção porque se sabe medíocre. E isto é o máximo que sua inteligência pode efetivamente fazer por ele. Sim, ele é esperto e safo, até demais. O que não é pouco. É até demais. Mas malícia não é inteligência... O que se prova pelo fato de que ele, repetindo a si mesmo, neurolinguisticamente, que ser igual é bom, ele se entrega a essa contradição. Até estar de fato convencido que ser maior num mundo de iguais é a coisa mais natural deste mesmo mundo.

Há um outro que tem de tudo. Ele não se culpa. Na verdade, ele se compraz. Mas tem pena ou algo semelhante. Mais certo seria dizer que nem isso. Ou, talvez, que isso finja... E porque ele tem de tudo, ele tem livros. Não que os leia, mas ele lê. Vislumbra neles alguns conceitos que o arrebatam. Por qual beleza arrebatam não atino. Não que ele os entenda, mas ele finge… E finge tão bem, até para si mesmo, que se convence que não ter nada é bom. Então sai por aí a declarar palavras mágicas. Pirlimpimpins de um discurso tão vazio quanto vazia é sua vida medíocre. Tão vazio e medíocre quanto ele próprio. Quase tanto quanto o inteligente é medíocre. Quase não: perfeitamente. Um tanto quanto outro, pois é bem provável que sejam o mesmo. E, se não são, unem-se em conveniente e funesta parceria. Porém, mais e pior: o discurso convence. Não porque seja inteligente ou mágico. Mas porque entre os medíocres eles não são dos piores!

Pois há ainda mais um outro. O que repete o inteligente preguiçoso sem ser maior, mas que é muito menor que ele. O que repete o que tem sem ter, tendo ainda menos, se for possível. O que é um em muitos e faz uma multidão de pobres ignorantes. Medíocres sem perspectiva além da repetição. Repetir, repetir, repetir… Ad infinitum. Fazendo do preguiçoso inteligente e do que não tem rico em bens. E estes fazem um só, enquanto aquele se multiplica tanto quanto os repete. Ad infinitum os medíocres dos medíocres proliferam. E assim que abaixo deste nível médio há apenas os doentes mentais. Estes, no entanto, são idiotas por qualquer deficiência. O que os faz, ao menos neste sentido, perdoáveis. Mas aqueles, ah, aqueles são idiotas de bom grado. Sua deficiência é de outro tipo.

E assim que os muitos enriquecem uns poucos, crendo que são semelhantes a eles e que eles os defendem. E assim que os muitos louvam uns poucos, fazendo deles heróis, adorando ídolos em que se espelham sem que os possam alcançar. Nenhum deles merece nada, por certo. Mas eles certamente se merecem. Não, por favor, não fale em mérito, eu repito. Nem me permita ousar. Pois eles são todos iguais e donos de tudo na perpetuação da mediocridade, da pobreza e da verdade inventada para o senso comum que os serve…

Ai de nós que nos permitimos viver neste mundo que eles criaram. Ai de nós que os permitimos inventar. Ai de nós!

Sim, funciona assim!

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Claro que não há certo ou errado quanto à base do surfista. É que fui um, em saudosos tempos que no tempo não voltam, e esta foi só uma imagem que se me apresentou. Nem, obviamente, a imagem pintada tem a ver com surfistas.

Mas, de fato, estes que surfam com o pé direito à frente são chamados goofies, enquanto os demais, como eu fui, são chamados regular. E, também, os “lados” da onda se veem do mar para a praia.

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Talvez as imagens sejam, como muitas vezes são, simplistas. E mesmo injustas. Quanto ao simplismo faço um mea culpa: não fiz qualquer investigação psicológica ou o que o valha. Mas, enfim, era para ser simplista mesmo.

Porém, quanto à injustiça que o simplismo acarrete, não a temo. Pois se de fato há injustiça, esta é a de que aqueles que pinto são mesmo bem piores do que pintei.

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A igreja, ou aqueles que se dizem parte dela, sempre se deixou enganar por muitos discursos. Verdades inventadas há aos montes. Por isso não será de se espantar se nada for novidade. O Amor que é a Verdade continua mal compreendido hoje como o foi quando se fez um de nós. Hoje, porém, o amor é confundido com esta igualdade pronunciada em palavras mágicas.

Entretanto, o ser comunidade naqueles tempos era por um sentimento de urgência escatológica, não econômica, e voluntariamente. E o que se distribuía era segundo o mérito de cada um. Um mérito que se reconhece dádiva, e que se doava por mordomia. Ainda assim mérito. E mesmo quando já distribuído, ainda há o que merecer no serviço, pois aquele que não quer trabalhar também não coma….

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Mas a igualdade, por seu turno, é mesmo mágica. Pois na comunidade dos iguais é cada um por si. Farinha pouca, meu pirão primeiro! Isto é mesmo muito amor. Para não falar do engodo.

Eis a resposta dos tontos: ao invés de Amor e Verdade, amor e engodo.

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E eu, enfim, por meu turno, sou de um outro tipo de tolo que não é tonto, mas que é por certo tido por insano e indigno.

Sou daqueles que ficam com o Amor que, sem fazer acepção, não nos trata como iguais nem igualmente, pois nos criou únicos, conforme Seus juízos, que são bons e santos.

Eu sou um daqueles que ficam com o Logos e Sua magia criativa, que é de um outro tipo, de real Beleza, e a qual compartilhamos com Ele, pois semelhantes a Ele somos.

Sim, num certo sentido sou mesmo insano e indigno. Mas sei ser grato Àquele que me permite a razão e que por meus méritos não me condena, mas antes pelos Seus me enche de dádivas.

A Ele louvo, pois.

SOLI DEO GLORIA!

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Uma teologia "infeliciana"

Para quem gosta de polêmicas, essa semana foi "ótima". Começou na segunda-feira, quando o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) disse no programa "CQC" que namorar com mulheres negras seria uma "promiscuidade". Piorou quando ele, ao se desculpar, afirmou ter entendido errado a pergunta feita por Preta Gil, achando, na verdade, que era sobre namorar gays.

As declarações já seriam um farto material para alimentar polêmicas a semana toda. Mas tem gente que não aguenta ver o circo pegar fogo e não participar. Parece que não suporta ver todos os holofotes iluminando uma idiotice e quer provar que a sua estultícia e ignorância são ainda maiores. E, mesmo admitindo não saber o que o outro disse...outro deputado resolveu abrir a boca e falar bobagens.

E, então, o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) resolve dizer que os africanos são acompanhados por uma maldição desde os tempos de Noé e que "A podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam (sic) ao ódio, ao crime, à rejeição". Não contente, ele ainda se diz feliz porque a polêmica o tornou mais conhecido, entre outras barbaridades.

Um desavisado pode pensar que é assim que pensam os cristãos no Brasil. Mas isso não é verdade. Os verdadeiros protestantes pensam conforme a Bíblia ensina. E as Escrituras contrariam os ensinos "infelicianos" do pastor Marco.

A maldição de Canaã
Comecemos com a declaração de que os negros africanos (ele não inclui os brancos) e seus descendentes são herdeiros das maldições lançadas em cima de Canaã, filho de Cam, filho de Noé. A primeira coisa que devemos nos lembrar é que Cam não foi amaldiçoado, mas somente o seu filho Canaã:
Despertando Noé do seu vinho, soube o que lhe fizera o filho mais moço e disse: Maldito seja Canaã; seja servo dos servos a seus irmãos. E ajuntou: Bendito seja o SENHOR, Deus de Sem; e Canaã lhe seja servo. Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem; e Canaã lhe seja servo. (Gênesis 9:24-27)
A primeira coisa que deve ser notada é que os egípcios e etíopes são descendentes de Cam e não de Canaã. Feliciano afirma que Canaã representa todos os descendentes de Cam, o que não é verdade. Os camitas geraram nações poderosas, como o Egito, o que torna absurdo concordar com Feliciano quando ele tuita:
A maldição q Noe lança sobre seu neto, canaã, respinga sobre continente africano, dai a fome, pestes, doenças, guerras étnicas!
Nos dias bíblicos, tanto o Egito como a Etiópia foram nações poderosas. E qualquer leitor do Antigo Testamento sabe que o povo de Israel, o povo escolhido por Deus, também foi alvo de guerras, pestes, doenças...e que os israelitas foram escravos no Egito!

Os descendentes de Canaã foram os povos que habitaram a Palestina até os dias de Moisés e Josué, quando os israelitas começaram a conquistar Canaã. Quem conhece um mínimo de geografia bíblica vai perceber que os cananeus eram asiáticos e não africanos!
Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e a Hete, e aos jebuseus, aos amorreus, aos girgaseus, aos heveus, aos arqueus, aos sineus, aos arvadeus, aos zemareus e aos hamateus; e depois se espalharam as famílias dos cananeus. E o limite dos cananeus foi desde Sidom, indo para Gerar, até Gaza, indo para Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim, até Lasa. (Gênesis 10:16-19)
Sidom fica no atual Líbano e é associada aos fenícios. Gaza é a nossa Faixa de Gaza, lá no sul da Palestina. Os heteus habitaram o Oriente Médio. Logo, os amaldiçoados não moravam na África!
Os cananeus moravam na Palestina, e não na África!

Todos estes povos ou foram destruídos na campanha israelita de conquista da terra de Canaã. Os que sobreviveram acabaram se casando com os israelitas e seus descendentes podem ser achados no meio dos semitas de hoje (como os judeus). Aliás, Jesus Cristo era descendente da cananéia Raabe (Mateus 1:5)!

Seria Jesus Cristo um maldito para Marco Feliciano?

Todos os povos são malditos
Contudo, biblicamente falando, ser amaldiçoado não é um "privilégio" exclusivo dos cananeus. Brasileiros, japoneses, judeus, alemães, russos, árabes, índios, chineses...todos compartilham da mesma situação. Afinal de contas a Bíblia amaldiçoa todos os que pecam:
Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las (Gálatas 3:10)
Quando pecamos, por ação ou omissão, é porque não permanecemos dentro do ensino bíblico. E todos os seres humanos, exceto o próprio Jesus, pecam.
pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, (Romanos 3:23)

Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. (Romanos 3:9-12)
Um africano não é mais pecador aos olhos de Deus do que um brasileiro ou um norueguês. Aos olhos d'Ele, todos nós somos malditos que precisam fazer as pazes com Deus, se arrepender e serem salvos por Jesus Cristo. O pensamento de Feliciano fere não apenas a simples leitura de Gênesis: também nega o fundamento da doutrina da salvação. Não se trata apenas de um simples erro, é uma heresia.

Homossexualismo: raiz de todos os males?
Mas este não é o único erro de Feliciano. Eu sou cristão e reitero que o homossexualismo é sim um pecado contra o qual devemos pregar. Jamais direi que a conduta ou o desejo homossexual não são pecaminosos. Todavia, a mentira, o adultério, a pornografia, o racismo e o ódio aos homossexuais também são pecados que devem ser combatidos. E, diga-se de passagem, embora o diabo seja o pai da mentira (João 8:44), ninguém diz que a mentira é a mãe do ódio, do crime e da rejeição, como Feliciano fez com os homossexuais. (Embora, na verdade, a mentira seja sim a mãe de todos os pecados, já que o diabo mentiu para levar Adão e Eva a caírem!).

Se a fala de Feliciano fosse verdadeira, então não haveria ódios, crimes e rejeição em meios heterossexuais. Mas é só olharmos para o Irã, um país que, segundo seu presidente, não existe homossexualismo...para vermos que lá também acontecem pecados e crimes que escandalizam o mundo todo. Basta visitarmos um presídio e vermos quantos criminosos são heterossexuais. Ou então nos sentarmos com nossos amigos e amigas e vermos o ódio brotando de corações heterossexuais por causa de problemas heteroafetivos.

E aqui cabe o mesmo raciocínio usado com os africanos: homossexuais e heterossexuais precisam igualmente da graça de Deus e de salvação. Eu posso não ter nenhum desejo homossexual, mas sou pecador e maldito todas as vezes que penso na mulher alheia ou rio de uma piada que denigre uma mulher. Um heterossexual que fornica antes do casamento e vê pornografia precisa desesperadamente de perdão e salvação em sua sexualidade, assim como um homossexual ou um marido que sente o desejo de trair a sua esposa.

Assim como um grupo étnico não é superior ou inferior a outro, atrevo-me a dizer que nenhum ser humano pode se considerar santo, por si mesmo, em sua sexualidade. Todos nós, sem exceção, somos falhos aos olhos de Deus e precisamos de Jesus Cristo para nos salvar de nossos pecados sexuais. Há sim diferentes graus de pecado sexual, mas todos eles nos levam ao inferno e destroem a nossa vida! Logo, todos carecemos desesperadamente de Jesus.

Feliciano é sim homofóbico em sua declaração. E se esquece de que o verdadeiro problema é que o pecado mora em todos nós, independente de gênero, preferência sexual, etnia, religião dos pais ou qualquer outra variável.

Jesus: a solução para todos
Só há um antídoto para tal teologia "infeliciana": Cristo Jesus. Ele veio trazer salvação a todos: brancos, negros, amarelos, azuis com bolinhas verdes, homossexuais, heterossexuais, bissexuais, homofóbicos, heterofóbicos...e até homens como Marco Feliciano também podem ser salvos e transformados por Jesus.
Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação. Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido. Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. (Romanos 10:9-13)
Todos os que buscarem a Jesus, pedindo salvação de seus pecados, serão aceitos. Não importa se o pecador é um homossexual ou um homofóbico, Cristo pode salvar os dois.

Pode ser que nesta vida não consigamos viver uma vida perfeita, sem lutas contra o pecado. Assim como eu luto contra vários pecados, inclusive sexuais, há sim cristãos, salvos em Cristo Jesus, que lutarão eternamente contra o homossexualismo e a homofobia. Da mesma forma, assim como venci vários pecados ao longo de minha vida, haverá sim cristãos completamente libertos tanto do homossexualismo como da homofobia. Cristo é poderoso para vencer qualquer pecado.

E este é o meu conselho para Bolsonaro, para Feliciano, para mim mesmo e para qualquer ser humano: volte-se para Jesus! Reconheça o seu pecado, confesse suas iniqüidades, arrependa-se, creia em Jesus, receba-O como seu Senhor e viva uma nova vida, para glorificá-Lo acima de tudo! Este é o único Caminho que pode salvar a todos nós.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro
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5 ídolos que ameaçam os novos calvinistas [3 e final]

4. A idolatria da relevância

O desejo de relevância é legítimo, e está presente em muitos cristãos. Há quem deseje ser irrelevante, fechando-se cada vez mais e rejeitando a comunicação com a cultura, mas esses são grupos menores, provavelmente com prazo de validade e data de óbito definida.

O cristianismo busca ser relevante na medida em que pretende comunicar o evangelho com clareza, e, a partir dele, ser instrumento para a transformação de vidas - da igreja, da família, da sociedade, e da cultura. Não há pretensões de redenção do mundo, porque elas sempre acabam em um projeto megalomaníaco ou totalitário, mas há o desejo de produzir impacto no seu contexto.

Chamar atenção a qualquer custo tem seu preço
O novo calvinismo se apresenta cheio desta sede por relevância. Comunicar o evangelho ao homem da pós-modernidade parece ser o foco. Tornar a igreja visível e respeitável no contexto da pluralidade religiosa está na agenda.

A grande pergunta é: até onde estamos dispostos a ir em nome da relevância?

Os grandes barcos e navios precisam de âncoras em ordem, e os carros mais velozes precisam de freios ajustados. Da mesma forma, os projetos teológicos e eclesiásticos mais arrojados precisam de bons mecanismos de avaliação e retorno para o caso de possíveis desvios.

Quanto à relevância, é o momento de andarmos com o pé sobre o freio. O desejo de ser percebido ou de ser útil à cultura pode tomar proporções maiores do que o desejado, e assim o processo idolátrico se apresenta.

Ao colocar a relevância em um nível pouco acima do que deveria estar, o novo calvinista vai deixando em segundo plano as bases de sua fé, em busca dos modelos e técnicas de relevância cultural. Logo se terá algo completamente distinto do original "novo calvinismo" - um arremedo de teologia e igreja, que apenas busca seguidores e adesistas, não mais convertidos.

Deveríamos sempre nos lembrar das lições da história. No contexto da modernidade, o desejo dos liberais era o de tornar a igreja relevante à mente cooptada pelo iluminismo. Ao idolatrarem a relevância, descartaram os pressupostos bíblicos, e entraram em algo diferente do cristianismo.

Do mesmo modo, os novos calvinistas precisam ficar atentos e reavaliar suas motivações e práticas continuamente, para identificar se o desejo de relevância tem tomado proporções maiores do que deveria.

Questões fundamentais nesse processo são:

- O que está por trás do meu desejo de relevância? A glória de Cristo? A exibição do estilo de minha igreja? A demonstração de como o novo calvinismo é cool?
- Até onde estou disposto a ir para comunicar o evangelho?
- Quais os limites de minha contextualização?
- Quais os limites da minha linguagem?
- Quais os limites de transformações no culto?
- Quais os limites da mudança nas músicas?
- Quais os elementos inegociáveis em minha fé e prática?
- Tenho feito algo que deveria voltar atrás?
- O caminho que estou seguindo me levará a algum tipo de desvio na fé ou prática?
- Estou disposto a ser chamado de irrelevante, se isso significar permanecer fiel à Escritura?

Uma análise seguindo a linha das questões acima pode nos preservar de uma busca cega pela irrelevância. Antes de buscarmos o impacto na cultura, precisamos estar certos de que vivemos para glorificar a Deus.

5. A idolatria dos jovens

Nosso tempo idolatra os jovens. Nelson Rodrigues, ainda nas décadas de 60 e 70 já falava que a "idade da razão" deu lugar à "razão da idade". Ele criticava o fato de alguém estar a priori correto, apenas por ser jovem. Não é difícil perceber o fenômeno - os jovens movimentam maior fatia do mercado, determinam a programação geral da televisão e demais meios de comunicação e influenciam a opinião pública. Os idosos querem ser ou parecer jovens - por meio de cirurgias, ou por meio da ridícula expressão "tenho espírito jovem". As igrejas caminham com a cultura e criaram a figura do pastor de jovens, e assim a ditadura da juventude vai se perpetrando.

A possibilidade é de novos calvinistas, que nascem nesse contexto de idolatria da idade, não questionarem o ponto. Sem refletir adequadamente, tendem a repetir o modelo, com um ministério absurdamente anti-idosos ou outras faixas etárias.

Isso pode se manifestar de várias formas:

- As músicas adotadas são rápidas demais, com ritmos explosivos, volume alto, e tudo o que alguém mais velho não consegue assimilar tão rapidamente;
- A utilização de tecnologias e cores torna o ambiente quase insuportável para quem lidava apenas com uma abordagem simples do ambiente de culto;
- As pessoas que servem parecem modelos, malhadores, etc., e assim os que possuem maior idade não têm qualquer identificação ao aparecerem em suas reuniões;
- A velocidade e dinâmica do culto e das programações é de difícil assimilação por parte daqueles que vêem o mundo em outra perspectiva e não estão na era da internet;
- O linguajar dos líderes é carregado de gírias e expressões não inteligíveis pelos de maior idade.

Quão bíblico é desprezar outras faixas etárias?
Deste modo, o novo calvinismo pode chegar ao ponto de idolatrar o jovem, desprezando cada vez mais as outras faixas etárias. A falta de sensibilidade exclui os anciãos da comunidade.

Várias questões precisam ser pensadas a partir daí. Uma delas é que, eventualmente, estes jovens formarão família, e crianças aparecerão no contexto da igreja. Os pequeninos não poderão ser ignorados, sob pena de o novo calvinismo ter apenas uma geração de vida. Outro ponto é que os jovens também envelhecerão. Ou (1) eles ficarão velhos e tolos, tentando manter o pique da juventude, ou (2) sairão da igreja [e do movimento], percebendo que não há lugar para idosos no novo calvinismo.

As consequências disso são terríveis. Os jovens ficam privados da sabedoria dos mais velhos quando se fecham em um grupo tão homogêneo, e perdem a oportunidade de edificar e abençoar as gerações mais novas. As crianças precisam de adolescentes que lhes sejam exemplos. Os adolescentes precisam de jovens que os discipulem. Os jovens precisam de adultos que lhes sejam conselheiros. E os adultos precisam do acompanhamento de pessoas mais velhas.

A igreja é uma comunidade ampla de santos - de toda as cores, estilos, times de futebol e idades. Idolatrar uma faixa etária é empobrecer o movimento, e decretar a sua falência.

Conclusão: Sabedoria na auto-crítica

A proposta desse artigo é de levantar a auto-crítica sobre os novos calvinistas que se formam no Brasil. Enquanto o movimento busca articulação e definições, é importante estar consciente dos riscos que o cercam, bem como pensar e repensar suas práticas, convicções e motivações à luz do bom senso, e da Palavra de Deus.

Quem rejeita a crítica se afunda num deserto de tolice. Quem a recebe e a considera - ainda que para descartar posteriormente, é mais passível de ter atitudes bem pensadas e coerentes.

Que Deus abençoe os novos calvinistas, e nos livre da idolatria.
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Glorificados por Deus

Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou. Rm 8:29-30

Chegamos ao último artigo da série que considerou as cinco bênçãos de Deus "para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito" (Rm 8:28). Depois de havermos discorrido sobre Deus conhecer de antemão, predestinar, chamar e justificar os Seus, consideremos a declaração "aos que justificou, também glorificou" (Rm 8:30) e a maravilhosa certeza que ela encerra. O que significa ser glorificado por Deus?

O termo utilizado é derivado de dexazo, que pode ser traduzido "tornar glorioso, adornar com lustre, vestir com esplendor; conceder glória a algo, tornar excelente" (Strong). O termo, ainda segundo esse erudito, vem da raiz doxa que quando aplicado aos crentes refere-se à "condição de gloriosa bem-aventurança à qual os cristãos verdadeiros entrarão depois do retorno do seu Salvador do céu". Portanto, glorificação é o estado final dos crentes, no qual seremos semelhantes a Cristo: "amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é" (1Jo 3:2). No mesmo capítulo 8 Paulo já havia se referido à "glória que em nós será revelada" (Rm 8:18) afirmando que "se de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória" (Rm 8:17).

A surpresa fica por conta de que, embora essa glorificação seja futura, pois no presente somente "nos gloriamos na esperança da glória de Deus" (Rm 5:2), Paulo na passagem em foco a considera como já realizada: "aos que predestinou, também glorificou" (Rm 8:30). O verbo está no aspecto aoristo, que não leva em consideração o tempo passado, presente ou futuro, embora a tradução no passado simples satisfaça a maioria dos casos. O elemento de certeza é reforçado pelo modo indicativo, o qual implica que uma ação realmente ocorreu, ocorre ou ocorrerá. Portanto, a glorificação, ainda que futura, era tão inexoravelmente certa para Paulo que ele a expressa como se já tivesse ocorrido! De fato, sendo a corrupção da natureza humana vencida no chamamento eficaz e toda culpa pelo pecado eliminada na justificação, nada mais pode se interpor entre o regenerado e a glória! Paulo estava convencido, e nós também podemos estar, "de que Aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus" (Fp 1:6).

"Que diremos, pois, diante dessas coisas?" (Rm 8:31). Que podemos ter absoluta certeza de nossa salvação. Não cabe aqui a mais ínfima desconfiança de que um crente, uma vez salvo, venha ao final ser vencido e condenado. "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8:31), vale dizer, se Deus, começando na eternidade, nos "predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho" (Rm 8:29) e no presente "age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito" (Rm 8:28), como deixaria perecer alguém por quem Cristo morreu? "Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?" (Rm 8:32).

Romanos 8:29-30 é a corrente dourada da graça, a qual não pode ser quebrada por nenhuma força da terra ou do inferno. Um indivíduo que foi conhecido desde a eternidade por Deus, que foi predestinado a ser feito à imagem de Jesus, que foi chamado de forma sobrenatural e poderosa pelo Espírito Santo em tempo oportuno, que teve lançado a seu crédito a perfeita justiça de Cristo, será inevitavelmente recebido na glória por Deus. Aleluia!

Soli Deo Gloria

Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às segundas-feiras.

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5 ídolos que ameaçam os novos calvinistas [2]

Neste post vão os pontos 2 e 3. Provavelmente o texto será concluído na próxima postagem.
 
Joshua Harris
2. A idolatria de homens

Outro risco que cerca qualquer movimento é a possibilidade de considerar seus líderes e grandes expoentes como algo mais do que apenas isso. O mecanismo segue mais ou menos assim:
(1) Algumas pessoas, dotadas de maior capacidade de liderar, despontam como formadores de opinião no contexto do movimento;
(2) As qualidades de liderança e percepção da corrente que vai definindo sua identidade, dentre outros aspectos positivos (como talvez a erudição ou o carisma) atraem admiração e respeito para com o(s) líder(es);
(3) O respeito e admiração ganham contornos maiores, e o líder começa a ser considerado um modelo a ser copiado, bem como o padrão do movimento (o que é ou não "do movimento" é medido em termos de sua semelhança com a abordagem do líder);
(4) As opiniões e práticas do líder são consagradas pelo movimento, de modo que a identidade da corrente vagueia entre o campo conceitual definido anteriormente (em doutrinas, reflexões, etc.), e a prática do líder (tudo o que ele faz é considerado "a cara" do movimento);
(5) Pouco a pouco, o líder e sua palavra têm mais credibilidade do que a Palavra de Deus. Isso é percebido quando todas as outras interpretações possíveis do texto bíblico são descartadas a priori, simplesmente por oferecerem uma alternativa à perspectiva do líder (isso demonstra que o interesse não é tanto em compreender o texto, mas em seguir a pessoa).

C. J. Mahaney
Este não é o único caminho da idolatria de homens, mas é um bastante comum, e que pode ser percebido por nós. Nem toda idolatria de homens ganha contornos de fanatismo, do tipo de usar a camisa do líder e só falar as palavras da figura em questão, Às vezes o idólatra veste a máscara do "respeito", quando, em seu coração, entronizou o sujeito e não abre os olhos para nada mais à sua volta.

Com relação ao Novo Calvinismo, o caminho acima pode ser traçado. É preciso cautela e auto-crítica para não cair neste erro. As variantes também podem ser percebidas: alguém pode passar a se vestir como o Joshua Harris não por simplesmente gostar de roupas casuais, mas pelo desejo de imitar e pela idolatria estabelecida (quem não satisfizer as exigências do ídolo será tachado de "quadrado", herege, "engessado", etc.) - a cobrança do terno em outros arraiais, passa a ser a cobrança da calça jeans e tênis. Outro novo calvinista pode passar a admirar tão intensamente alguém como Matt Chandler, que não aceita qualquer crítica ao pregador, reagindo com fúria desproporcional às análises realizadas.

O risco de tal idolatria é que, como em outros movimentos, a queda do líder pode promover a queda dos idólatras. Uma vez que o foco não está em Jesus, mas na figura da pessoa influente, as notícias de sua vida são os fatores determinantes da fé dos seguidores. Avalie-se: qual seria a sua percepção do Novo Calvinismo e da fé cristã se homens como C. J. Mahaney se envolvessem em algum escândalo? O movimento inteiro se estabelece na vida desses indivíduos? Eles têm ocupado um lugar maior do que deveriam em sua percepção?

Quando a pergunta central dos novos calvinistas passa a ser: "o que Mark Driscoll faria?", eis a idolatria estabelecida.

O remédio, além da auto-crítica recomendada, está na centralidade de Jesus que a Escritura, o Calvinismo clássico, o Neocalvinismo e o Novo Calvinismo ensinam. Jesus em lugar de proeminência, e todos os demais líderes respeitados e honrados, mas sempre para dar glória a Deus.

3. A idolatria da cultura pop

Sem hipocrisia, eu gosto da cultura pop. Ouvir rock'n'roll, assistir seriados (sitcoms), ler revistas, e até mesmo ver a perspectiva da moda pop - às vezes bastante maluca e ousada, mas para a maioria das pessoas "comuns" (não tão preocupadas em andar nas fronteiras), roupas casuais como o velho jeans e all star funcionam perfeitamente.

Não há problema em curtir elementos de determinada expressão cultural. Com o Novo Calvinismo, grande parcela da igreja percebeu uma nova atitude de lidar com a cultura. No âmbito musical, por exemplo, o NC trouxe consigo bandas com sonoridade contemporânea e a mensagem reformada. Isso não é novidade entre os evangélicos, mas a postura por trás da prática parece bastante diferente. Para muitos cristãos que utilizavam expressões culturais contemporâneas a serviço de Deus, tratava-se da criação de uma "subcultura cristã" - uma réplica "gospel" do que está lá fora. Para que o cristão não tenha que sair do ambiente seguro da igreja e vá ouvir heavy metal não-cristão, é melhor termos uma banda cristã de metal. Não é que a cultura tem validade por si, ou que as expressões musicais são bênção de Deus e revelam o belo ao espírito humano. Nada disso é realmente refletido - a utilização da música e demais artes é puramente pragmática (produzir as réplicas e "proteger" os cristãos).
O ambiente de uma igreja Mars Hill

O Novo Calvinismo não parte de tais premissas, e por isso não precisa se aproximar das expressões culturais em busca destes famigerados "genéricos". Ele lida com o heavy metal - para acompanhar o exemplo acima - a partir da realidade de que a criatividade humana que fez nascer o "som pesado" vem de Deus, e por isso tal sonoridade tem valor intrínseco. (Vou me abster de tratar a questão se tais músicas devem ser tocadas no culto - esse não é o foco da discussão).

Não apenas a música é vista deste modo, mas o NC promoveu uma nova forma de enxergar as artes plásticas, a decoração, a moda e as artes audiovisuais (multimídia, como o cinema). Observem o ambiente da Mars Hill em cada série pregada pelo Driscoll - inclusive o figurino do pregador -, e vocês entenderão o que estou falando. O ambiente criado na igreja é devidamente trabalhado utilizando recursos que demonstram elementos da cultura pop - a mais reconhecida e valorizada pelos jovens de Seattle.

De uma mudança no modo de encarar a cultura pop para a idolatria dela, porém, há diferença. O defensor do Novo Calvinismo que se distrair um pouco pode deixar o ponto passar. Existem pelo menos outras duas expressões culturais: a cultura popular, e a alta cultura (o conceito é questionado por alguns, mas também não pretendo me perder nessa discussão). A cultura pop é a de consumo imediato, que aparece e some com a mesma rapidez - talvez como uma música do cantor da moda, que amanhã já foi esquecid@ (o cantor e a música). A cultura popular é aquela que ainda preserva popularidade e grande aceitação, embora se preocupe em integrar elementos mais densos à sua expressão, e por isso o seu consumo é mais duradouro - no contexto brasileiro, talvez a bossa nova nas canções de Tom Jobim ilustre o ponto (elas duram mais, embora não se pretendam "canções eruditas"). A alta cultura é aquela de menor aceitação, por envolver elementos de maior complexidade. Uma revista 'Cláudia' tem mais leitores do que a obra de Shakespeare. A música de Ivete Sangalo é de mais fácil compreensão do que a obra de Vila-Lobos. Pela maior profundidade de análise, rigor na produção e complexidade, as expressões da alta cultura tendem a demorar mais tempo que as anteriores. Uma mesma música pode ser ouvida várias vezes, e sempre revelar novas surpresas - de elementos ainda não percebidos, e sentidos ocultos na composição.
Mark Driscoll antes de ser cool

Não percamos o ponto: o apelo estético do Novo Calvinismo, como nos tem sido apresentado aqui, é bastante sedutor. Boa iluminação e fotografia, com boa música contemporânea, um pastor descolado falando linguajar pop, e o cenário está montado. O novo calvinista é bastante cool. Mas isso é tudo?

O risco corrido por muitos novos calvinistas, é o de identificar o NC como expressão da cultura pop, por ela ter maior aceitação das pessoas. Dessa forma, qualquer manifestação reformada e missional no contexto da cultura popular, ou - pior ainda - no âmbito da alta cultura, seria considerado algo externo ao movimento. Se esta fusão for realizada (NC e cultura pop), estaremos afirmando que ser missional só é válido em determinado contexto, para determinado grupo de pessoas, e isto - tenho certeza - é o fim da perspectiva missional.

Contra esta idolatria, recomendo a leitura do próprio Driscoll no Reformissão. Ali ele identifica as três expressões culturais mencionadas aqui (pop, popular e alta), e indica que igrejas em determinados contextos trabalham de diferentes maneiras. O NC não é a cultura pop. Ser um calvinista [novo, neo, clássico, ou o raio!] é mais do que usar jeans e all star. Alguém pode cantar hinos e ser contextualizado. Alguém pode usar um vocabulário mais rebuscado e ser missional. Alguém pode rejeitar a idéia de ser cool, e ser um reformado comprometido com a cultura.

Se abrirmos os olhos desde já para tais distinções, melhor será a caminhada.
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Lulu Santos e o Novo Calvinismo

Publicado originalmente no Optica Reformata.

***

Sem querer aumentar ainda mais o celeuma em torno das fervorosas discussões sobre o Novo Calvinismo (NC), e já correndo o risco de ser considerado como alguém totalmente avesso ao movimento (o que não é verdade, evidentemente), vou revelar aqui uma brincadeira que fiz alhures (via chat) com alguns colegas quando me referi àquela que poderia ser a modinha dos novos calvinistas. Trata-se da música O último romântico, de Lulu Santos, que assim reza em seus versos iniciais:

Faltava abandonar a velha escola/ tomar o mundo feito Coca-Cola.

É claro que não se trata de nenhuma análise “séria” do movimento, haja vista o elemento lúdico embutido na própria comparação em si. Sim, fiz isso mais como quebra-gelo mesmo, e até pensei se valeria a pena mesmo o post. Mas em que se pese essa proposta de ruptura com as velhas formas (ou, o velho modus operandi, de repente) e a consequente propagação de uma mensagem mais contextualizada para a cultura na qual está inserida – o ser “missional”, no caso do NC –, penso que a relação que fiz tem lá a sua validade, o que torna o este post, digamos, “publicável”, segundo penso.

Mas se é pra falar de coisa séria, aqui vai uma crítica. E mais uma vez me aproprio da deixa do Lulu, só que agora no que tange ao romantismo. Tenho notado que alguns irmãos que se identificam com o NC tem se deixado levar por uma postura quase acrítica quanto ao movimento, o que faz com que se irritem facilmente quando alguém questiona certos pontos de suas perspectivas. E o pior é que não são exclusivamente os ditos “neopuritanos” quem levantam as questões, mas até mesmo gente que está mais próxima do arraial do Piper do que do arraial do Peter Masters. E é justamente isso o que me preocupa, pois a impressão que tenho é que muitos estão simplesmente pegando arrego numa onda que nem bem sabem o que é, mas que já se apressam em defendê-la com unhas e dentes. Temo também que essa atitude irrefletida de alguns, somada aos seus ânimos acirrados pela "oposição", possa interferir de forma trágica no resultado pretendido por eles próprios, o que não seria nada bom para o calvinismo no Brasil. Para que seja um movimento realmente frutífero e duradouro [olha eu palpitando aí, gente!] – e não apenas um modismo –, é preciso que os novos calvinistas juntem o ouro, a prata e as pedras preciosas do que há de melhor na tradição reformada, largando de mão as madeiras, fenos e palhas de nossos modelos equivocados (cf. 1 Co 3.10-15). É necessário também que se vá com calma, muita calma, para que a noiva não se canse antes do baile.

É por essas e outras que tenho me recolhido ao silêncio nesses dias. Ainda preciso ler muito sobre o assunto para poder me definir como “a” ou “b”, se é que o farei. Mas de uma coisa eu sei: que a Fé Reformada é muito maior do que o Velho ou o Novo calvinismos. Maior até do que o próprio Calvino, como eu já disse alhures. E se porventura estivermos procurando estabelecer A ou B como o padrão último do que venha a ser um verdadeiro reformado, de modo que rompamos com as Escrituras e com a fé legada pelos nosso pais, então seremos achados não apenas os últimos românticos, mas também como os últimos tolos (isto se não deixarmos o mau exemplo para as futuras gerações, que também poderão continuar endossando essa nossa tolice). Que Deus nos dê discernimento!

Soli Deo Gloria!

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